Pensei muito antes de escrever esse artigo porque o assunto que
vou abordar abaixo é delicado e envolve pessoas famosas. Falar sobre a vida
alheia é sempre algo muito difícil mesmo que a pessoa seja pública. Fico sempre
me perguntando: será que pelo simples fato de alguém ser famoso, isso nos dá o
direito de invadirmos sua privacidade? E se fosse com a gente ou com alguém que
amamos? Será que gostaríamos de ver a nossa vida devastada pela mídia? Não
existe um limite?
É, como disse no início desse artigo, essa é uma questão muito
complexa. Se por um lado, tem os que criticam o comportamento, muitas vezes,
agressivo e invasivo dos paparazzi; de outro, há os que os defendem sob o
argumento de que ser público foi uma opção tomada pela própria pessoa. Diante
disso, os ônus dessa escolha devem ser atribuídos a ela, única e
exclusivamente. Se não quisessem exposição que ficassem no anonimato. São duas correntes
muito distintas.
Esta semana, a Justiça de São Paulo proferiu decisão
determinando que o portal de Internet R7 retirasse do ar, dentro de 48 horas,
notícias que mencionavam um suposto relacionamento afetivo do ex-jogador de
futebol Raí com o apresentador da TV Globo Zeca Camargo.A ordem judicial tratava
especificamente de textos sobre o assunto publicados pela jornalista Fabíola
Reipert em seu blog, hospedado no portal.
A multa diária para o eventual descumprimento
da decisão é de R$ 2 mil.
Raí já entrou com uma ação na justiça contra a jornalista. Ele pede
uma retratação pública, uma indenização de R$ 10 mil e a retirada do ar das
notícias já existentes.
Tudo começou após a blogueira e jornalista ter publicado no R7
que: “a Globo havia proibido os programas da casa de associar os nomes de Zeca
Camargo e Raí". Ela completava com as perguntas: "O que será que eles
têm para esconder, hein? E o que têm em comum?".
Fabíola estava apenas repercutindo uma notícia dada por ela
anteriormente: "um belo ex-jogador de futebol teria deixado a mulher em
troca de um novo amor. Ele foi morar com um apresentador da Globo, que ainda
não saiu publicamente do armário".
Está certo que, em nenhum momento, foram citados por Fabíola em
suas notas os nomes de Raí ou de Zeca Camargo. Não sei de que forma esse boato
ganhou força, principalmente porque até então nunca havia sido publicada na
imprensa nenhuma nota sobre uma suposta homossexualidade de Raí. Quanto ao
apresentador Zeca Camargo sempre existiram notinhas maldosas, porém, sem
nenhuma constatação sobre sua orientação sexual diferenciada.
O fato é que o caso tomou uma repercussão muito grande obrigando
Raí, que estava fora da mídia, a reaparecer justamente num momento como esse,
ou seja, durante um escândalo. As conclusões desse inquérito ainda devem levar
tempo para serem concluídas, mas o R7 já não tem nada mais associado ao tema em
seu site.
Em maio deste ano, foi a vez da atriz Carolina Dieckmann
envolver-se em outra polêmica, desta vez, muito mais grave porque sua
intimidade foi literalmente invadida ao publicarem fotos íntimas dela na
Internet. Um grupo especializado da Delegacia de
Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) da Polícia Civil do Rio usou
programas de contra-espionagem para chegar aos suspeitos. De acordo com a
investigação, o roubo das fotos teria começado com um e-mail usado como isca
(spam), que ao ser aberto pela atriz abriu uma porta para a instalação de um
programa que permitiu aos hackers entrar no computador de Carolina.
Durante semanas seguidas, a atriz foi obrigada
a expor ainda mais sua imagem na imprensa. Foi matéria do Fantástico e do
Jornal Nacional, dois dos principais noticiários do país e capa de jornais e
revistas. Carolina é uma das personalidades brasileiras mais disputadas pelos
paparazzis devido ao seu comportamento. Odiada por uns e adorada por outros, é
do tipo que não leva desaforo para casa, talvez por isso seja alvo constante de
tantas polêmicas envolvendo seu nome. O que poucos lembram, infelizmente, é de
comentarem o seu talento- algo indiscutível, pois é uma excelente atriz
independente do seu humor ou gênio.
Recentemente, outro casal famoso ganhou novamente os holofotes:
o cantor sertanejo Zezé di Camargo e sua esposa Zilu. Durante anos, eles foram
obrigados a conviverem com notícias que abordavam as supostas traições amorosas
de Zezé. Só que, agora, os papéis foram trocados. Fotógrafos teriam flagrado
Zilu ao lado de um jovem, em Miami, em fotos comprometedoras. Bastou para que o
assunto ganhasse destaque na imprensa. Nada foi confirmado, mas novamente a
intimidade foi relegada a segundo plano em nome da imprensa marrom- aquela que
busca incessantemente a notícia sem preocupar-se com as fontes ou
conseqüências.
Saindo do Brasil um pouco, outro assunto muito comentado
mundialmente e que ganhou notoriedade em toda imprensa devido à fama do casal
foi a suposta traição da atriz Kristen Stewart contra Robert Pattinson-ídolos
da saga Crepúsculo. Novamente fotos foram publicadas nas quais Kristen estava
em poses muito sensuais ao lado do diretor de cinema Rupert Sanders, responsável
pela produção “Branca de Neve e o Caçador”, filme protagonizado pela jovem
atriz de apenas 22 anos. O flagrante levou tanto Kristen quanto Rupert a declararem
publicamente a traição e mexeu com os ânimos em Hollywood, que adora ostentar
esse celeiro de fofocas.
Estes três exemplos citados acima foram apenas os mais recentes
e que escolhi para ilustrar esse artigo e acho que ilustram muito bem o que
pretendo abordar. Não estou aqui levantando bandeira se as atitudes dos artistas
citados estão certas ou erradas até porque cada um faz o que bem quer da sua
vida pessoal e ninguém, mais ninguém mesmo tem o direito de intrometer-se nesse
assunto.
Mas, o objetivo principal e único desse texto é o de discutirmos
as conseqüências provocadas por esse grupo de jornalistas (?) que vivem à custa
de uma imprensa fabricada e calcada em escândalos. Eles só sobrevivem graças ao
público que compra essas revistas de R$ 0,50 em troca de notícias, muitas
vezes, falsas. É uma verdadeira indústria da fofoca.
Infelizmente existem cada vez mais publicações desse tipo no
nosso país e também no mundo. As redações deveriam investir em Cultura ao invés
da fofoca. As notícias que deveriam prevalecer na nossa mídia são as de
patrocínios culturais, editais, lançamentos de produções nacionais,
oportunidades para novos talentos. Não vi, até agora, nenhuma vez nenhuma
referência ao Concurso de Roteiros Nacional, promovido pelo autor Aguinaldo
Silva e olha que é algo nacional e importante para a dramaturgia porque irá
revelar cinco novos talentos para o mercado.
Enquanto isso, os espaços
são ocupados cada vez mais pela traição do fulano com sicrano, pelas fotos
íntimas de uma celebridade e por aí vai.
O problema é que isso não acontece apenas aqui. As fotos de Kristen e Rupert são um exemplo
disso. Se essa indústria da fofoca é mundial, a questão é rediscutirmos a
importância e o papel da imprensa.
Se isso não for feito, daqui a pouco, ao invés de termos como
manchete nos nossos jornais e sites, as notícias que são de cunho e alcance
social, teremos “manchetado” uma traição de uma celebridade como se isso
interessasse mais à sociedade do que algo realmente importante.
Por: André Luís Cia
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