quarta-feira, 4 de julho de 2012

HÁ LIBERDADE DE CRIAÇÃO QUANDO UMA OBRA LITERÁRIA VAI PARA A TV E O CINEMA?














HÁ LIBERDADE DE CRIAÇÃO QUANDO UMA OBRA LITERÁRIA VAI PARA A TV E O CINEMA?
O remake de Gabriela está no ar há quase um mês. Depois de muita expectativa sobre essa nova versão da novela, que foi um clássico no passado, inevitavelmente surgiram as primeiras comparações, seja na escalação do elenco, na direção ou no texto. Muitos adoram e outros odeiam.
Arrisco a dizer que os críticos mais fervorosos são aqueles que não conseguiram aplicar o desapego, ou seja, gostaram tanto da obra original que não aceitaram essa reeleitura.
Isso também aconteceu com O Astro, de Alcides Nogueira, exibida num modelo compactado no final do ano passado, porém, sucesso de crítica e de público mesmo sendo bem diferente da obra de Janete Clair.
No caso de Gabriela, ainda é cedo para darmos o veredito à trama de Walcyr Carrasco. Particularmente, eu gosto de muita coisa, inclusive da interpretação e da entrega de Juliana Paes ao personagem, imortalizado por Sonia Braga. Infelizmente não vi a primeira vez, em 1975, porque tinha acabado de nascer, mas recorri a algumas cenas na Internet e também a pesquisas, que só comprovaram o sucesso da novela. É inevitável dizer que o que vemos hoje são duas novelas diferentes, pois somente o eixo central será mantido porque é uma trama muito menor.
Bem, mas o intuito desta postagem não é o de levantar bandeira sobre a onda de remakes que invadiu nossa teledramaturgia. Tem quem defenda e, por outro lado, quem critique, assim como tudo nessa vida. São os dois lados da moeda.
O objetivo deste artigo é discutir a transformação de obras literárias em produtos televisivos, cinematográficos ou teatrais.
Até que ponto, os originais são respeitados e de que forma a criação pode atrapalhar ou prejudicar?
No caso do livro Gabriela, escrita pelo autor Jorge Amado e que atualmente ganha sua segunda versão na TV- antes foi tema no cinema-, como será para o escritor ver o seu romance sair das páginas de um livro para ganhar vida por meio de uma novela ou de um filme?
Jorge Amado não está vivo para manifestar sua opinião sobre a novela de Carrasco. Mas e no caso dos autores que ainda estão vivos? Como será que eles se sentem quando veem suas histórias ganharem literalmente vida por outras mídias?
No caso de Aguinaldo Silva, foram três grandes sucessos, tirados da nossa literatura: Riacho Doce (José Lins do Rego), Tieta e Porto dos Milagres (inspirada nos romances Mar Morto e a Descoberta da América pelos turcos), todos baseados em livros de Jorge Amado.
Minha curiosidade recai sobre o processo de adaptação da obra. O autor de uma novela pode criar sem interferência do autor do livro que inspirou a criação da novela? (isso, no caso dele estar vivo).
Estou revendo Riacho Doce e, na minha opinião, foi um dos trabalhos mais lindos na TV, assim como Tieta. Mas vou me ater ao caso de Riacho Doce porque é a obra que estou vendo no momento. Quando o Aguinaldo estava escrevendo os capítulos desta série, com certeza, teve que criar personagens secundários para que dessem gás à história para que ela se tornasse uma minissérie. O livro Riacho Doce foi escrito em 1939 e quando foi escrita a série, o autor já havia morrido, portanto, Aguinaldo não teve nenhuma interferência do autor na obra.
Acho extremamente fascinante e didático ver uma obra literária ganhar vida, ou seja, sair das páginas de um livro ir para as telas da TV e do Cinema, pois, infelizmente vivemos num país no qual a literatura é muito pouco valorizada e , muitas vezes, a novela acaba sendo a única referência cultural da população, daí a importância delas para a construção de nossa sociedade.
Muitos dizem que perde-se muito quando um livro vai para a TV ou cinema. Em alguns casos eu até concordo, mas não nos que foram citados anteriormente- exceto no caso de Tieta-o filme.
Tieta, por exemplo, foi uma novela magnífica e até hoje, mais de 20 anos depois é lembrada pelos fãs e pela crítica.
Mas, o engraçado é que quando Tieta foi para o cinema pelas mãos do Cacá Diegues, o filme foi muito mal nas bilheterias e também na aceitação do público e da crítica.
Talvez, se o roteiro de Tieta- o Filme, tivesse sido dado ao Aguinaldo , na época, o filme teria repetido o mesmo sucesso da novela porque assim como Jorge Amado foi o pai de Tieta nos livros, Aguinaldo foi o pai de Tieta na TV. Acho que o filme não agradou porque a imagem de Tieta (de Betty Faria) era insubstituível frente a uma nova Tieta (Sonia Braga no cinema).
Será que o mesmo acontece agora? Muitos até gosta da Juliana Paes no papel, mas recusam a aceitá-la definitivamente porque sentem-se como se estivessem traindo Sonia Braga?
Outros bons exemplos bem sucedidos dessa transposição da literatura para TV foram Hilda Furação, Engraçadinha, A Muralha, dentre outros.
Acho que no final das contas, todos ganham: os romances que voltam a ser procurados nas prateleiras e a população que pode ter acesso a uma grande história que poderia ficar apenas restrita às prateleiras das bibliotecas.
Tenho uma curiosidade de fã e gostaria um dia que o Aguinaldo Silva me respondesse. Como foi a criação da Vó Manuela? (magistralmente interpretada pela Fernanda Montenegro). Ela era daquele jeito mesmo no romance ou foi uma criação s (ainda não li o romance), mas destaco a personagem como uma das mais instigantes da nossa dramaturgia, tanto pelo texto quanto pela interpretação da atriz.
André Luís Cia

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